sexta-feira, 26 de março de 2010

Ensino baseado na web é mais eficiente?

Enquanto estudos recentes mostram que inserir uma boa dose de tecnologia no processo de aprendizagem é irreversível e vantajoso, ainda existem restrições para que isso se torne realidade no Brasil.

Por Romain Mallard, Webinsider, 09 de novembro de 2009.

Será que finalmente estamos prontos para admitir que os métodos tradicionais de ensino são pouco eficientes e devem evoluir rapidamente?

Pelo menos é o que aponta um estudo publicado pelo governo americano, que compila os resultados de 10 anos de pesquisa e conclui que os recursos de aprendizagem online constituem uma maneira mais eficiente de aprender do que o ensino tradicional.

A pesquisa (veja em pdf) propôs uma meta-análise que chega a uma conclusão já amplamente difundida no mundo corporativo: sentar em uma cadeira e ficar olhando alguém falar não leva o aluno a grandes resultados. Neste contexto, devemos nos lembrar de como nasceu o modelo de educação em vigor e questionar por que é tão difícil fazê-lo evoluir.

Quais são os mecanismos que realmente despertam o aprendizado e como desenvolvê-los?

Assistir não é aprender!

O pecado original da área educacional é tratar o conhecimento como se existisse a possibilidade de transferi-lo, como se transfere vinho da garrafa para o copo.

Porém, conhecimento não se transfere, mas se constrói; o futuro do aluno depende menos de quem sabe e mais de o que ele mesmo vai fazer para aprender. A industrialização do processo educacional foi influenciada pela filosofia Taylorista; em geral, os governos são considerados responsáveis por preparar, em grande escala, cidadãos e profissionais capazes de sustentar a economia do futuro.

Por questões logísticas, desenhou-se um modelo para dividir o problema em partes: por idade, por ano, por matéria, por sala, por região. Assim, foi abafada a individualidade do desenvolvimento intelectual, procurando um difícil equilíbrio entre ensinar a todos e respeitar o ritmo de cada um.

Fatalmente, entre seguir o programa e atender às peculiaridades de cada aluno, o professor não tinha opção. A padronização da aprendizagem começou: “sente, escute, anote, até a próxima”. Isso acomoda o aluno numa postura passiva e as escolas, em vez de formar profissionais e cidadãos pró-ativos, formam espectadores.

Paradoxalmente, enquanto as corporações modernas evoluíram para modelos organizacionais mais flexíveis e abertos a sugestões, como o sistema japonês de produção, boa parte dos sistemas de ensino têm dificuldade em evoluir.

Acontece que os alunos-internautas são hoje os principais atores da mudança. Por não aceitarem mais o status quo, eles se tornaram instigadores de novas práticas.

É necessário adaptar o processo a cada aluno

Pensando bem, das situações que ensinam algo na vida, você vai se lembrar de duas: grandes alegrias e sofrimentos. O que realmente gravamos está intimamente vinculado ao que sentimos; e o que sentimos está ligado ao nosso grau de envolvimento no que está acontecendo.

Portanto, colocar o aluno como principal ator do seu aprendizado é geralmente mais eficiente do que colocar o professor numa posição central. Isso não quer dizer que aprender é um ato desestruturado e individual. Pelo contrário, ele deve ser planejado, acompanhado e adaptado. É este o papel fundamental de quem sabe: escutar e orientar e, não, palestrar.

As tecnologias educacionais neste sentido representam uma verdadeira mudança de paradigma, já que oferecem escalabilidade, canalizando a experiência do aluno, sem engessá-la. Por exemplo, atividades online com previsão de 30 minutos de duração são realizadas por alguns alunos em 20 minutos, enquanto outros levam até 50 minutos. Juntando essas pessoas em uma mesma sala de aula, o ritmo imposto não agrada a nenhum dos dois. E tal sensação conflita diretamente com o estado emocional necessário para que se aprenda.

Comprometer o aluno para que construa o seu conhecimento

Ao dar autonomia e recursos ao aluno, este assume uma postura completamente diferente em relação aos objetivos de aprendizagem. A variedade de serviços web disponíveis atende de maneira cada vez melhor às afinidades e restrições de cada um.

Podcasts, wikis, webtvs, fóruns, conteúdos multimídia, games, chats, micro-bloggings, realidade aumentada, cada uma dessas tecnologias tem o seu valor e pode compor uma trilha de aprendizagem para fazer dessa experiência um sucesso. O uso desses recursos não pretende necessariamente substituir os encontros presenciais, porém, uma abordagem híbrida permite desenvolver uma experiência mais rica para todos.

A responsabilidade do aluno no bom uso desses recursos melhora naturalmente os resultados dos momentos de troca. De ouvinte, ele se torna participante, animador e moderador.

Os principais desafios já podem ser superados

Se todos os estudos recentes mostram que inserir uma boa dose de tecnologia no processo de aprendizagem é irreversível e vantajoso, ainda existem restrições para que isso se torne uma realidade no Brasil.

Primeiro, a escalabilidade, pois os grandes projetos de e-learning contemplam hoje dezenas de milhares de pessoas. Os desafios educacionais do país, desde a alfabetização até a formação de técnicos para a indústria, passando pela preparação da Copa de 2014, abrangem milhões ou até dezenas de milhões de pessoas. Portanto, os investimentos necessários em infraestrutura física e lógica para superar esses desafios são significativos, apesar de sensivelmente inferiores aos investimentos necessários para melhorar a qualidade do ensino presencial.

Segundo, o acesso na ponta, que embora venha sendo aprimorado de maneira rápida e contínua (13,4 milhões de conexões banda larga e 50 milhões de internautas no país passam em média 1h20 por dia na web), ainda é problemático. Ele depende basicamente das redes, dos dispositivos de acesso e da qualidade dos serviços, três pontos que ainda devem evoluir para se tornarem mais acessíveis ao público em geral.

As LAN houses aparecem neste momento como uma alternativa transitória valiosa para compartilhar esses recursos e reduzir custos. Por fim, a garantia da qualidade é uma questão central. Implementar métricas para ter um controle estatístico do processo ainda não é praticado sistematicamente em educação, sendo o campo mais promissor para as tecnologias educacionais.
De fato, tradicionalmente o aluno é avaliado por meio de provas, mas pouco ou nada é levantado sobre como ele aprendeu para chegar a um determinado resultado. Isso muda radicalmente quando se trata de educação online, já que todas as ações do usuário logado podem ser acompanhadas (tempo de estudo, tipo de atividades, relação com os demais alunos, temas de preferência, etc.) para extrair correlações e melhorar o processo.

Como dizia Galileu “Não se pode ensinar nada a um homem; só é possível ajudá-lo a encontrar a coisa dentro de si.” E talvez esse tenha se tornado o principal papel de quem pretende hoje atuar em educação: ser o arquiteto de sistemas de aprendizagem híbridos cada vez mais eficientes.

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